quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Filme: TEMPOS MODERNOS - Charlie Chaplin

Vou falar hoje dele, um dos filmes mais amados das professoras de história - não me digam que não - porque nada melhor para entender um contexto histórico que usando um filme sobre ele, na época dele (não é tão difícil de entender, vem comigo).






Título: Tempos Modernos
Título original: Modern Times
Ano: 1936
Direção: Charlie Chaplin
Gênero: Comédia/Drama
Preto e Branco
87 min








1936, um ano ainda difícil para o mundo depois da quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Fábricas fechando as portas, juros altos, pessoas sem teto para morar e trabalhadores sem ter onde poder demonstrar seu serviços. Isso tudo já seria o suficiente para aqueles que estavam sem esperanças, se não fosse bem perto do começo da Segunda Guerra Mundial, que iniciaria em 1940.

Chaplin, ah, Chaplin. Aquele inglês que foi para os Estados Unidos procurando trabalho em 1913, e acabou conquistando a America e o mundo com sua arte a partir de 1914. Ele não conseguia nem podia ficar calado diante daquilo que via: precisava mostrar como tudo estava realmente acontecendo na classe trabalhadora.

A Crise de 1929 (Grande Depressão)


Durante a Primeira Grande Guerra, o EUA produzia armas e exportava juntamente com elas, alimentos para a Europa, onde acontecia o conflito, lucrando assim quantidades absurdas de dinheiro - enquanto ainda era um país neutro. Sem contar que ainda financiava empréstimos para os países europeus. Quando a Rússia "abandonou" a Tríplice Entente, a Alemanha atacou as embarcações Americanas que forneciam mantimentos e armas para a Inglaterra, acabando assim com a neutralidade dos norte americanos. Com isso, ao fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, o EUA estava feliz da vida com o título de um dos países mais ricos do mundo.

Tudo estava lindo, brilhando: as pessoas na década de 20 compravam ações que estavam cada vez mais valorizadas, a economia crescia e crescia. Surgiu ai a expressão "American Way of Life" e os "loucos anos 20" foram cada vez mais ficando conhecidos por deixar a economia nas alturas. Porém tudo acabou se desfazendo, e em 24 de Outubro de 1929, a crise começou.

Aumentava-se o número de produtos, mas não de consumidores, causando a diminuição do consumo e a falência de diversas empresas. Houve também a superprodução agrícola, o livre mercado - onde cada empresário era responsável pelo que queria fazer e ninguém poderia palpitar, e então, a Quebra da Bolsa, onde todas as ações despencaram.

Com isso, com a produção diminuindo bruscamente - porque ninguém investe na empresa, o consumo diminui - acaba acontecendo o desemprego em massa: se não produzo, para quê preciso de tantos empregados?
Bancos faliram por não receber os empréstimos feitos, empresas fecharam por não conseguir mais produzir. E assim a pior crise da história mundial foi-se estabelecendo e crescendo.

Mundial? 
Sim, mundial. Os Estados Unidos eram uma "alavanca" para o capitalismo no mundo. Atingiu inclusive o Brasil, que exportava principalmente café. Tentando inclusive conter a queda, o governo federal brasileiro comprou uma parte do produto e queimou 80 milhões de sacas dele.

London Herald anunciando a Quebra da Bolsa na Quinta Feira Negra, um dia após o acontecimento.


Ligação do filme com o contexto histórico
Tempos Modernos é, sem dúvida, uma das obras mais conhecidas do querido Chaplin. Seu último filme mudo - talvez o último filme mudo da história, sem levar em conta O Artista de 2011 - é também o último que seu personagem O Vagabundo aparece.

Fordismo e Taylorismo

No começo temos já de cara uma justaposição simbólica de um grupo de carneiros sendo conduzidos à uma direção e o fluxo de operários. Temos Carlitos e seu trabalho em uma fábrica, um trabalho quase que escravo e um exemplo perfeito do modo de trabalho chamado de Fordismo: cada funcionário possui uma única função na produção e deve fazê-la com o menor tempo possível, procurando sobressair-se dos demais.

O objetivo final da organização é sempre a grande produção e o lucro cada vez maior (podemos ver o dono da empresa vigiando os funcionários a todo momento, e fazendo com que aumentem e diminuam a velocidade do trabalho), e com isso, cada trabalhador pode vir a sequer saber o que as demais partes da produção fazem com o produto, o que causava uma falta de especialização. (Por isso o filme é também muito utilizado em aulas de Teorias da Administração e de Sociologia).

Fonte: Jornal do Brasil, 19 de fevereiro de 1997.

A crítica de Chaplin a esse modelo é tão forte que ele depois de ter sido até usado como cobaia para o teste de uma máquina nova e revolucionária, acaba virando uma peça da máquina a qual trabalha, e num acesso de estresse e nervosismo, acaba sendo levado para o hospício.

A Crise

Fora do hospital, ele vai para a prisão acusado de comunismo - tudo isso porque uma bandeira vermelha havia caído de um caminhão e ele começou a agitá-la e gritar para que o motorista o visse, pretendendo, assim, devolvê-la. Tudo estaria certo se uma multidão fazendo uma manifestação não surgisse atrás dele.

Porém, na cadeia ele se vê bem melhor tratado do que nas ruas. Lá, pelo menos, tem um teto, tem comida, tem segurança. Quando é liberado, faz de tudo para que pudesse voltar a ser preso, e mesmo tendo uma carta de recomendação (por bom comportamento) para que conseguisse emprego, ele não quer ficar longe da prisão. (E na cadeia temos o episódio icônico de Chaplin confundindo cocaína com sal).

Nesse meio tempo conhecemos a Moleca, personagem de Paulette Goddard, uma garota órfã que faz de tudo para fugir das autoridades.

É complicado, nesse meio, conseguir maneiras de se manter de pé com a crise. Fábricas com funcionários em greve, desemprego, fome. Carlitos e a Moleca encontram uma choupana na beira de uma espécie de lago, e ele encontra todo tipo de trabalho estranho, mas aceita todos simplesmente para poder ajudar a pequena moça. Mas é em um desses trabalhos que acaba sendo preso de novo, quando uns amigos daquela primeira fábrica lá no começo vão roubar a loja de departamentos a qual ele é vigia: em meio ao desemprego, eles acabaram entregando-se ao roubo para sobreviverem.

Quando é solto novamente, descobre que a Moleca conseguiu um emprego em um cabaré como dançarina. Ela lhe consegue um trabalho de cantor, e é essa a primeira e última vez que ouvimos a voz do personagem o Vagabundo, enquanto canta uma música nonsense em um idioma que ele próprio inventou.

O fim do filme mostra claramente a esperança que havia em cada trabalhador atingido pela crise de que tudo poderia ainda dar certo. Carlitos pede a uma desanimada e triste Moleca que sorria - afinal como diz a própria composição de Chaplin para tal cena: De que adianta chorar?
Embora fosse algo bem utópico, era essa a mensagem de Chaplin.

Cena de Tempos Modernos. Fonte: cnn.com

O New Deal e o fim da crise
Em 1933, Roosevelt foi eleito presidente dos EUA, e implantou o plano chamado New Deal, um conjunto de medidas econômicas, em que o Estado iria intervir na economia fortemente procurando acabar com os efeitos da crise de 1929.
Entre essas medidas estava uma reforma bancária e monetária, incentivos agrícolas, redução da jornada de trabalho, entre outros. 

No começo da década de 1940 a economia americana começou a responder positivamente o plano de Roosevelt. Só quando a Segunda Grande Guerra começou que os EUA conseguiram tomar conta da economia de fato, ampliando as exportações.


E é claro que Chaplin também falou sobre a Segunda Grande Guerra. E com o dedo na ferida mais que qualquer outra pessoa teria coragem de fazer: satirou Hitler com seu Adenoid Hynkel, e como se não fosse já necessário, satirou também Benito Mussolini com o Benzino Napaloni (muito bem interpretado por Jack Oakie, inclusive). Porém esse é um assunto para um próximo post.

Tempos Modernos é um filme que nunca consigo cansar de assistir. A cada vez que o vejo, descubro mais pontos que são dignos de nota, e como uma terminantemente apaixonada por história, espero que eu tenha conseguido passar um pouco da grandeza dessa obra para vocês. 


Charlie Chaplin e Paullete Goddard. Fonte: http://theredlist.com/



Referências (sites e textos que auxiliaram na construção desse post):
InfoEscola
Sua Pesquisa
Revista Cafeicultura
Historia Net
Mundo Educação
Brasil Escola

E a biografia "Chaplin, Uma Biografia Definitiva" de David Robinson.

1 comentários:

  1. Bela descrição do filme, assim que possível vou assistir "O grande ditador" também!

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