quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Especial/Livros: A EDUCAÇÃO PRESSIONA OU INCENTIVA A LEITURA?

Olá pessoas, tudo bem com vocês? Como vão os preparativos para as festas de natal e ano novo?

Pois então, hoje eu finalmente estou trazendo para vocês o post que tanto prometi que faria, aquele que conta minha experiência enquanto leitora durante os tempos de escola e os perigos de uma educação que obriga e não incentiva a leitura. Espero que gostem de lê-lo assim como amei preparar ele para vocês. Vamos lá?!

Imagem: Animated Gif.
"É espantoso como certos homens podem mudar com o incentivo certo." À Espera de um Milagre de Stephen King, pág. 112.
É, Stephen King, você disse tudo: o incentivo certo. O que teria sido de minha prateleira se eu tivesse lido Memórias Póstumas de Brás Cubas por indicação de uma pessoa que falou da história com carinho? Será que eu teria mais Eça de Queiroz e Machado de Assis que Arthur Conan Doyle e Stephen King? Eis a questão. 

Durante os anos de Ensino Fundamental e Ensino Médio, posso dizer que eu já era uma leitora apaixonada. Meus cartões na biblioteca viviam cheios, e eu sempre levantei eles para todos verem, com maior orgulho. Pelo menos no tempo do Fundamental eram assim. No ensino médio eu não me lembro de ter tido um incentivo maior para ler, embora ainda houvessem livros que me interessavam, e ai que estava o problema. Os livros que me interessavam não eram os que iam cair nas provas.

Não quero e nem vou apontar dedo no rosto de alguém nomeando culpados, porque não há um ou uns culpados quando o sistema todo comete erros. Vamos aqui dizer algumas coisas que muitas pessoas concordam, e espero que quem não concorde ao menos entenda. Há um problema sério em muitos métodos de educação em literatura (em outras áreas também, mas o foco de hoje são os livros), e só não vê quem não quer.

Não me esqueço até hoje de um trabalho que precisei fazer sobre "Memórias de um Sargento de Milícias". "Vocês DEVEM ler o livro até dia X senão não vão nada bem na prova". Só isso. Nem um "o livro aborda assuntos como tal, tal, tal, fala da sociedade, ou não fala da sociedade" nem nada. Vocês DEVEM. Minha mãe entrou em desespero com esse DEVEM tanto quanto eu, procurando o livro em todo lado. Devíamos tanto que os livros esgotaram rapidamente na livraria mais próxima, que aliás era a única viável. Eu ainda não havia feito compras pela internet e nem consegui emprestado com alguma pessoa.

Mas eu DEVIA. Sim, DEVIA com letras maiúsculas, enfatizando um problema gigantesco ai. É preciso saber que há entre as palavras "pressionar" e "incentivar" um buraco do tamanho do Grand Canion.


Imagem: Tumblr
"Se o estudo ao qual nos dedicamos tem a tendência de nos enfraquecer as emoções e destruir nosso gosto pelos prazeres simples que nada pode corromper, então esse estudo é certamente inadequado à mente humana" Frankenstein de Mary Shelley, Pág. 58.

Muitas pessoas odeiam história e dizem ser uma matéria cansativa. Muitas detestam matemática e dizem que não nasceram para os números. Eu tento ler "Memórias de um Sargento de Milícias" e eu lembro que DEVO terminar aquele livro. Será que é culpa da matéria apenas?

Nossos professores não tem muito incentivo (financeiro e/ou de reconhecimento) para darem aulas, mas há aqueles que ainda assim são incríveis. E bom, há aqueles que nos fazem fazer algo que em um dia comum não faríamos... Como eu assistindo o filme no lugar de ler o livro. (Ué, eu não DEVIA conhecer a história?).

Tive um trabalho sobre Castro Alves, um homem que tem uma história e uma obra incrível. Eu TINHA que fazer ele perfeito, ou isso, ou nada de nota. Se você me perguntar do conteúdo e do que aprendi sobre ele, ficaremos em um silêncio fúnebre até eu dar de ombros. Mas eu consigo lembrar perfeitamente que me sentia inútil por não conseguir em uma matéria que gostava tanto, sequer ficar na média.

Eu não lembro de nada sobre verbo transitivo direto, indireto, gerúndio, classificação das palavras. Pelo menos nada que venha do Ensino Médio: mas lembro que ou eu fazia uma apresentação perfeita de um poema de Cecília Meireles, ou eu reprovava. Sim, reprovava o terceiro ano. Eu lembro de ver colegas tristes, consumidas pela ansiedade e pelo medo, odiando os livros que nada fizeram a elas. Hoje eu vejo que minha experiência ficou tão maldosamente marcada como ferro em brasa na pele, que eu não lembro de um livro que li por prazer naquela época.

E já tem cinco anos que eu formei no Ensino Médio. 

Imagem: Knighted-Princess

"Alek, meu jovem, em certo ponto da vida você vai aprender que tem uma diferença entre o que você TEM que fazer e o que você QUER fazer." One Man Guy de Michael Barakiva, pág. 78.

Eu não estou levantando uma bandeira que diz para as pessoas não obedecerem as ordens dos professores, menos ainda dizendo que os professores são sempre os culpados. Há diversos fatores que precisam ser analisados dentro de cada situação. Eu estou contando minha experiência como havia prometido.

Não vou esconder o fato de ter começado a detestar tanto aquelas aulas que eu em alguns momentos acabava sendo grosseira e fazendo coisas que não eram necessárias, como comemorar de um jeito absurdo ter me livrado daquela matéria em específico assim que recebi o resultado de "aprovada", mas eu assumo esses erros. 

Gosto de sentar aqui e redigir este texto pensando que possivelmente ele está aqui hoje justamente por essa experiência ruim que eu tive. Eu quero mostrar o quanto gostei de uma obra, contar sobre ela para as pessoas, assim quem não conhece talvez goste e possa ir mais a fundo naquilo. Eu vou totalmente contra essa maré que quase fui carregada durante dois dos três anos do ensino médio (porque do meu primeiro ano pouco me lembro) e gosto muito de ler os comentários de vocês dizendo que agucei a curiosidade com alguma resenha. Sinto como se meu papel tivesse sido cumprido.

Eu não sou fã de matemática pelo mesmo motivo que não consigo esquecer de todos aqueles "você deve". Mas eu contornei esse problema e não abandonei os livros. Quando eu digo que não leio muito da literatura brasileira, quero dizer com isso que eu estou me esforçando a esquecer todo esse problema de medo de "DEVER", e estou caminhando aos poucos. Carlos Heitor Cony me emocionou de tal forma com "Quase Memória" que eu cheguei a agradecer internamente por tê-lo conhecido nesta fase da minha vida e não cinco anos atrás.

Imagem: Tumblr
Assim como a gente vai ao longo do tempo superando medos, eu vou riscando a palavra "DEVE" da minha vida. A leitura para ser leitura precisa ser prazerosa, e não uma tortura. Não desistam dos livros. Se não se sentem estimulados a continuar a leitura - ou a continuar o ensino médio porque sim, eu já passei por isso e sei como é difícil - lembrem-se que lá pra frente vocês podem olhar esses momentos e dar risada.

Vocês não são feitos de notas. Não são feitos de um trabalho perfeito. São feitos dos versos doces de Cecília Meireles e fortes de Castro Alves. São feitos de Eça de Queiroz. São a dúvida do que será que Capitu fez ou não.

Não deixem o dever matar o mundo incrível dos livros. 

Imagem: bestanimations.com
Eu estudei toda minha formação em escolas públicas, e tive sim professores incríveis que me ensinaram mais que só a matéria. Vou dedicar um post inteirinho para eles depois, porque merecem. Espero que tenham gostado do texto e da reflexão de hoje.

Abaixo você encontra resenhas dos livros citados e que já foram falados aqui no blog:
Futuramente trarei as resenhas dos demais livros! Espero que tenham gostado da nossa conversa de hoje. Nos vemos no próximo, até lá!

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6 comentários:

  1. Bom, você sabe o quanto eu a admiro, o quanto gosto dos teus textos, suas resenhas, quero então começar este comentário dizendo que o texto está simplesmente incrível Anny.
    Uma crítica construtiva a um sistema de ensino arcaico, falho e que deixa a desejar com relação ao estímulo do aprendizado. Muitos podem discordar, sim, varia de pessoa para pessoa, cada qual com sua experiência e claro que não podemos generalizar.
    Esse sistema de ensino força o jovem a adentrar ao mundo literário de forma forçada, caso contrário não irá passar de ano letivo. A literatura deveria ser incentivada, criar no jovem leitor a vontade de querer conhecer, descobrir o novo, viajar pela infinidade do saber.
    É incrível como você tomou a rédea da situação, descobrindo outros autores e mesmo apesar do trauma dessa educação forçada, você tornou a literatura sua paixão, sua companheira diária!
    Passaria horas discorrendo sobre esse assunto com você, com seus leitores, uma roda de conversa, regada a um bom café mineiro... quem sabe!
    Até a próxima Anny e é como você mesma citou: "É espantoso como certos homens podem mudar com o incentivo certo." À Espera de um Milagre de Stephen King, pág. 112.
    Você está incentivando cada um de nós aqui neste blog, obrigado!

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    1. Muitíssimo obrigada pelo comentário motivador, Fred! Fico lisonjeada de verdade. Que bom que entendeu também o propósito do post, uma crítica ao sistema e não a todos os professores em geral. Talvez um pouquinho pra aquela que me deu aula, mas ok hahaha
      Literatura é o amor da minha vida. Eu posso dizer que respiro livros, e que fico feliz por não ter seguido o caminho que estava escrito pra mim no ensino médio. Obrigada pelo comentário, de verdade. Nos vemos no post de domingo <3

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  2. Primeiramente, muito obrigado pela resenha maravilhosa. Você ter compartilhar a sua experiencia, com certeza inspira quem passou pelo mesmo, vitimas do sistema de educação que como você bem disse, obriga ao em vez de incentivar. Valeu demais a reflexão!

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    1. Eu que agradeço pelo comentário, Tony.Há muito o que questionar e mudar ainda neste sistema! É um assunto necessário, embora doloroso...

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  3. Bom eu já começo a leitura desta resenha sentido forte empatia, pois eu passei por situações muito similares ao longo da minha formação acadêmica, lembro o quanto eu odiei ler " O cortiço " exatamente pelo dever de fazer aquilo, mas como você bem observou não é simplesmente um único fator que desencadeia essa falta de incentivo correto nas escolas...o sistema em si muitas vezes não prepara os seus profissionais da maneira como deveria, vemos muitos professores estagnados com o sistema, sem recursos para desenvolver um trabalho qualitativo, na maioria das escolas nem uma biblioteca decente é possível encontrar. Este com certeza é um dos temas mais bem pensados para ter se tornado uma resenha, pois apesar dos pesares não devemos desistir da leitura, devemos persistir e incentivar aos demais, e creio que esta resenha é o incentivo certo para aqueles que andam descrentes na vida como um leitor.
    E que venham mais resenhas valorosas assim.

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    1. Infelizmente, podemos dizer, que é cada vez mais difícil achar alguém que teve uma boa experiência de leitura no ensino médio ou fundamental, isso vem agravando muito... Há quem realmente não nasceu para os livros, mas há aqueles que assim como nós, queriam conhecer mais e acabaram vendo a oportunidade frustrada por milhares de fatores... Vida longa aos livros!! Obrigada pelo comentário, Raquel <3 Te vejo nos próximos posts!

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